top of page
  • Black Facebook Icon
  • Black Instagram Icon
  • Black Twitter Icon
  • Preto Ícone YouTube

A primeira impressão é a que fica?


ree

A primeira reação ao ver essa foto é o julgamento: são bandidos armados, mostrando seu poder, tão jovens e já no crime. Essa forma de pensar está enraizada em nossa cultura. Logo você percebe que julgou pela aparência (por suas referências) e consegue realmente enxergar o que a foto quer mostrar: jovens de periferia ou comunidades segurando seus instrumentos musicais. A foto vem para causar esse impacto, nos trazer a realidade, revelar que o mundo vai além do que nossos olhos podem ver.

A fotografia foi tirada por Anderson Valentim, 35 anos, formado em design gráfico, trabalha com música, fotografia e desenho. Essa foto foi feita para o projeto FAVELAGRAFIA que “através de fotos, mostra as favelas de forma autêntica e registrada pelos seus moradores, que são quem mais entendem seu contexto.” (FERREIRA, 2019). O objetivo do projeto é dar visibilidade para o dia a dia das favelas, suas histórias, paisagens e personagens.

Anderson, ao publicar essa foto em seu Instagram em outubro de 2016, usou a seguinte legenda: “Alguns lutam com outras armas”. Agora enxergamos claramente os cinco jovens em uma escadaria, com seus rostos cobertos e mostrando seus diferentes instrumentos musicais, como saxofone e trombone.

Os meninos da foto são moradores do Morro do Turano e fazem parte do projeto “Sons da Comunidade” que tem o objetivo de ensinar crianças, jovens, adultos e idosos a tocar vários instrumentos. Esse projeto começou em 1996 com o professor Luiz Alberto Nascimento. Outros projetos acontecem dentro do Complexo Turano, como o “Favela Radical”, idealizado por Jefferson Quirino, sendo um “projeto que nasceu em 2015 usando o surf, a escalada e outros esportes radicais para desenvolver crianças e adolescentes no Morro do Turano” (MARLON, 2019, s/n). Temos, também, a oficina da “TemQuemQueira”, patrocinada pelo Grupo Bradesco Seguros, “que promove a reinserção de moradores da comunidade ao mercado de trabalho e a transformação de resíduos em acessórios de moda com design exclusivo.” (BRADESCO, 2011, s/n).

Esses projetos que acontecem dentro das comunidades servem, entre outras finalidades, para mostrar para a sociedade que a arte, a educação, a música, o esporte... podem mudar o cenário de violência dentro das favelas. É o tipo de educação que vai além dos muros da escola. É a possibilidade de adaptar o que os jovens desejam com a realidade em que vivem, que muitas vezes o sistema educacional formal não consegue atingir os objetivos almejados pela juventude. Assim,

As escolas esperam alunos e o que lhes chegam são sujeitos de múltiplas trajetórias e experiências de mundo. Muitas delas oriundas de redes de relacionamentos produzidas nos novos espaços-tempos da internet, dos mercados de consumo, de grupos culturais juvenis ou intergeracionais, de grupos religiosos e de culturas criativas e periféricas. (Carrano, 2011, p. 18)

E como ficariam as trajetórias de vidas dos milhões de jovens que vivem nas periferias e não possuem o mesmo acesso a educação, a saneamento básico, a cultura, a saúde etc. que as classes sociais mais altas?

Para Carrano (2011) estaria surgindo uma “nova juventude”, onde essas se desenvolveriam com novas alternativas de vida e novos padrões culturais e sociais. A trajetória social de um jovem é marcada, também, “pela desigualdade de oportunidades e pela fragilização de vínculos institucionais”. (Carrano, 2011, p. 8)

Há vários caminhos a trilhar para se chegar a fase adulta, porém há vários empecilhos que podem mudar a trajetória escolhida pelo jovem, como o desemprego, a gravidez na adolescência, terminar os estudos, a informalidade, a violência crescente, uso de drogas, entre outras. Antigamente, “algumas dimensões marcavam o fim da juventude e a entrada dos jovens no mundo adulto: terminar os estudos, conseguir trabalho, sair da casa dos pais, constituir a própria moradia e família, casar e ter filhos.” (Carrano, 2011, p. 10). Hoje já não é possível seguir essa trajetória de transição entre jovem para adulto, pois houve uma perda de linearidade, causado por pontos de conflitos causados pelas instituições que estabelecem a vida social e econômica.

O exemplo de jovens que moram em comunidades nos mostra as voltas que a vida dá para conseguirmos traçar nossas trajetórias sociais:

Os jovens moradores de morros, favelas e espaços periféricos da cidade com os quais temos dialogado no Brasil vivem experiências socializadoras – sociabilidades locais e processos ampliados de socialização – em territórios marcados pelo poder das armas, pelo medo e também pelo fascínio exercido por traficantes de drogas e outros criminosos. Os jovens de favela também vivem a crueldade da presença de agentes policiais que agem violenta e corruptamente nessas comunidades, simultaneamente, violentas e violentadas. O quadro da violência física e simbólica é agravado pela sonegação do direito à circulação e fruição sociocultural do espaço urbano. Há evidente estreitamento da mobilidade seja por força de fatores econômicos objetivos associados ao custo do transporte urbano, seja pelos “muros invisíveis” que a cidade impõe aos periféricos. (Carrano, 2011, p. 17)

Idealizando, os projetos de vida permitem que o indivíduo se torne sujeito da transformação de sua própria vida. Carrano apud Touraine (2011) diz que ainda são necessários que os jovens tenham mais três elementos decisivos: “1. A resistência à dominação; 2. O amor a si mesmo[…]; e 3. O reconhecimento dos demais sujeitos e o respaldo dado às regras políticas e jurídicas[…]” (Carrano, 2011, p. 17).

Desse modo, as escolas devem reconhecer e buscar compreender os tempos e espaços em que vivem a juventude que participa da instituição. Muitos professores enfrentam problemas de relacionamentos em sala de aula, pois não conhecem o cotidiano e a história dos contextos não-escolares.



REFERÊNCIAS

FERREIRA, Davi. Mudando a perspectiva dos olhares pela fotografia. 23/01/2019. Disponível em: https://www.anf.org.br/mudando-a-perspectiva-dos-olhares-pela-fotografia/. Acesso em 28/10/2020.

BRADESCO Seguros. Bradesco patrocina oficina no morro do Turano. 23/11/2011. Disponível em: https://www.cqcs.com.br/noticia/bradesco-patrocina-oficina-no-morro-do-turano/. Acesso em 29/10/2020.

CARRANO, Paulo. Jovens, Escolas e Cidades: Desafios à autonomia e à convivência. Revista Teias, v. 12, n. 26, set./dez. 2011.

MARLON, Tony. A Favela Radical. 06/11/2019. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/causadores-jefferson-quirino/#cover. Acesso em 29/10/2020.


Obs.: Atividade proposta pela disciplina "Juventude, Trabalho e Escola" do mestrado PROFEPT 2020/2. Deveríamos refletir "Que imagem sobre a juventude me afronta e me confronta?", escolher imagens publicadas nas mídias sociais que trate das práticas e culturas juvenis e sociabilidades e elaborar um texto de análise de cada imagem dialogando com os autores dos textos básicos.

 
 
 

Comentários


bottom of page